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domingo, 31 de janeiro de 2010

O Drama Masculino - Parte 1

(obs: essa foto é a foto masculina mais memorável de todos os tempos, só poderia postar essa. rs)


07 de abril, 1974

Nasce mais um macho no mundo.

2 anos de idade: o maldito chiqueiro

Diego, aquele projétil de menino, corria pela casa livremente. É incrível o que duas perninhas de bebê podem fazer quando obtêm intimidade com o firmamento. Com Diego não foi diferente. A mãe - coitada - suava que só... o pai já havia desistido, faz tempo, de deter o menino.
- Deixa ele, mulher, não adianta prender.
- Ah, mas não será no seu ouvido que ele vai berrar depois!
- Berrar? E por quê?
Pronto. Catibúm. Diego berrou, e berrou, e berrou. O pai o segurou por uns minutos enquanto a mãe o encarava com ares de superioridade. E foi nesse dia que a mãe teve a grande idéia: o chiqueiro.
Diego teve de se contentar com as novas condições de liberdade. Os bons tempos acabaram. Pobe Diego, agora não era mais amigo do corredor da casa. Mas tinha de encarar aqueles ursos peludos e chatos que a mãe comprara com a absoluta certeza do entretenimento do filho. Que nada, Diego só queria disparar da sala até a cozinha de novo.

Maldito chiqueiro.

4 anos de idade: escola pra quê?

O primeiro dia de aula. Diego olhou para a mãe e depois olhou para aquele grande portão colorido. Alguma coisa o fazia sentir que algo estava mui estranho. Desconfiado, apertou a mão de sua progenitora de maneira firme. Deu uns passos tímidos à frente e fitou os olhos da mãe.
- Aqui é a sua escolhinha, filho. Você gostou dela?
Balançou a cabeça que não.
- Quer que a mamãe vá com você?
Balançou a cabeça que não.
- Mas filho, vai ser divertido... você vai poder brincar com os coleguinhas, sabia?
Balançou a cabeça que não.
Durante a primeira semana era sempre o mesmo ritual: Diego apertava a mão da mãe e empacava no lugar. A mãe batia um lero com ele que levava cerca de uns vinte e sete minutos até ele entender que não tinha autonomia suficiente para decidir que não queria estudar na vida, que a escola não fazia a mínima diferença para ele e que poderia muito bem continuar vivendo com Yakult e Discovery Kids para sempre, obrigado.
Infelizmente não funcionou... Diego teria de frequentar a escola durante os próximos treze anos de sua vida.

7 anos de idade: o objeto cilíndrico que arruinou minha vida

Muitas pessoas consideram a infância como a primeira fase da vida. Na verdade, eu digo que isso é um equívoco. Diego já não tinha mais três, quatro, ou cinco anos... nem mesmo seis. Sete. Ele tinha sete anos de idade. Já sabia o alfabeto inteiro de trás pra frente, cantava o hino nacional de cor, andava de bicicleta (sem rodinha) e, às vezes, sem as duas mãos - mas essa parte sua mãe não precisava saber, e já sabia de onde vinham os bebês. Porém (há sempre um...) assim como todo adolescente, jovem ou idoso que ainda guarda um resquício de sua fase de vida anterior, Diego escondia um segredo.
Era uma noite fresca de setembro. Uma perfeita noite para se trazer seus dois melhores e inseparáveis amigos para dormir em sua casa. Lá estavam, jogando video game, Diego e seus dois melhores e inseparáveis amigos: Marcelinho e Kaká. Os três estavam muito concentrados, cada qual com seu controle em mãos. Gritavam uns com os outros sobre os comandos do controle e a direção que seus respectivos bonecos deveriam tomar. Estavam entretidos, compenetrados, vidrados quando...
- Dieguinho, aqui o seu leite.
Os três garotos viraram o pescoço para trás ao ouvir a sra. Cardoso e ficaram chocados com o que viram. Tinha não mais do que quinze centímetros de comprimento, com mais ou menos seis centímetros de diâmetro, um formato cilíndrico na base e triangular na parte de cima. Muito parecido talvez com... não, não podia ser. Será? Era mesmo uma...
- Mamadeira?!! - exclamaram Marcelinho e Kaká ao mesmo tempo.
- O meu filhote só toma pra dormir. Aqui, amor, pegue logo antes que esfrie... - disse, tentando depositar o objeto nas mãos do menino o qual rapidamente se recusou.
- Não, mãe... que isso?! Eu não tomo mamadeira - Diego estava desesperado, não sabia onde pôr a cara e já desejava tranformar-se num avestruz.
- Como assim não, filho? Claro que você toma. Deixe de bobeira, pegue.
- M-mãe eu não... e-eu não bebo isso, o que é isso? Eu não tomo mamadeira!
- Está com pena dos seus amigos por que eles não trouxeram? Meninos, eu posso pegar para vocês também se quiserem - sugeriu com um bondoso sorriso no rosto.
- Pra nós?
Os dois meninos fecharam a boca de um jeito impulsivo e não queriam soltar o ar, mas as bochechas inflaram demais e não puderam mais prender: caíram numa intensa gargalhada a ponto de rolarem no tapete e darem palmadas no chão com muita intensidade. A sra. Cardoso achou curiosa a reação dos meninos, mas preferiu deixar a mamadeira no canto da sala (caso Diego parasse de agir como louco e quisesse tomar seu leite) e tornou à cozinha. Já Diego ficou absolutamente frustrado consigo mesmo - isso para não mencionar o ódio mortal que sentia pela mãe naquele devido momento. Teve de aguentar risinhos e piadinhas sobre sua mamadeira durante toda aquela noite. Pobre Diego... que culpa tinha o menino de nutrir um hábito de sua fase bebê (e é aí que lhes provo que a infância não é a primeira fase da vida)?
Diego viveria um pesadelo durante os próximos dias no colégio, tinha certeza. Aquele episódio era digno de replay (e com câmera lenta!). O que ele não sabia era que no dia seguinte, quando não estivesse mais na companhia de seus amigos, Marcelinho dormiria abraçado com seu paninho azul. E Kaká, por sua vez, voltaria a usar sua chupeta vermelha. E, ambos, teriam bons sonhos.

9 anos de idade: não são como água e óleo, não percebem!?

Era um dia ruim, na verdade péssimo. Diego se sentia o último dos homens... o mais réles e inútil mortal da classe. Não. O mais réles, inútil e miserável mortal da escola. Ou ainda pior: o mais réles, inútil, miserável e incompetente mortal de todo o universo. E tudo isso por apenas um motivo: Diego gostava do vasco e do flamengo - ao mesmo tempo. Sim, é isso mesmo que você leu... e não ache que estou blasfemando porque quem o fez foi Diego, seu camarada. Diego sempre evitou conversar sobre futebol. Primeiro porque tinha lá suas (imensas) dúvidas de qual seria realmente o seu time - fosse o mengão do pai ou a cruz de malta do tio Zé, que por sinal era o tio mais simpático que alguém poderia ter. Segundo porque não entendia muito bem como um bandeirinha poderia enxergar a 'linha' imaginária do campo até porque se a linha era imaginária - como seu pai lhe explicara em certa ocasião - achava injusto que as pessoas de casa pudessem ver a linha. E terceiro porque - como vocês mesmos já devem ter previsto - ele não era lá isso que se diga 'Oh! Como esse guri entende de futebol!'...
Pois bem, tudo começou quando todos os seus colegas de classe resolveram discutir sobre a performance de seus respectivos times no Campeonato Carioca. Diego permaneceu calado. Alungs minutos transcorreram-se e então a questão veio à tona.
- E você Diego, num tem time não?
- Tenho.
Silêncio absoluto. Cinco rostos voltados para ele.
- Eu sou flamenguista e vascaíno - finalmente disse. A verdade escondida durante anos a fio veio à tona. A verdade que o martirizava e fazia-o se sentir um sujo e imundo moleque que não sabia discernir a mão direita da esquerda. A verdade que, naquele exato momento, se revirara em aspecto de cólera estampada bem no rosto de cada um de seus amigos.
- Você era flamenguista e virou vascaíno?
- Não.
- Você era vasco e agora é flamenguista? Relaxa, comigo também foi assim... eu não sabia o que queria da vida e um belo dia...
- Também não é isso.
- Você é flamengo mas tem de fingir que é vasco para agradar um parente?
- Você é vasco ou flamengo?
- Você é obrigado a torcer pelo vasco? Seu pai é violento?
- Você não pode usar vermelho e preto?
Você, você, você, você... todas aquelas perguntas estavam mexendo com os ânimos de Diego. Ele estava de saco cheio já.
- Eu sou vasco E flamengo, entenderam? Sou OS DOIS times ao mesmo tempo!
- Você tá maluco? Ninguém pode ser vasco e flamengo ao mesmo tempo, ninguém! - um dos meninos mais corpulentos da sala gritou, o que não era lá um bom sinal. Mas Diego não iria recuar, não naquele momento. Precisava manifestar todo um sentimento reprimido de uma opção por um certo estilo de vida... talvez chamado 'alvirrubronegro'?
- Não, eu não sou maluco! - retribuía no mesmo tom de voz - Eu... eu sempre gostei do flamengo. Acho um time bonito, uma torcida... maravilhosa. Mas o vasco tem lá suas qualidades... quando eu era pequeno assistia aos jogos do flamengo e decidia que era flamenguista. Aquele vigor, aquela energia que exala de todo flamenguista, sabe? mas também assistia aos jogos do vasco e, quando eu menos esperava... me pegava vibrando com um gol de Roberto Dinamite! Ele é simplesmente o cara! - uma grande pausa teatral - Foi então que decidi... que seria vasco-flamengo para sempre.
Todos os colegas, muito irritatados, foram virando as costas, um a um, ao ex colega imundo e traidor.
Depois desse dia... Diego odiaria futebol para sempre (se bem que sempre... não é uma palavra que gosto muito de usar).


CONTINUA...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Comédia Romântica


Talvez seja um dos gêneros de cinema mais criticados. 'Roteiro pronto', 'água-com-açúcar', 'o mais novo pastelão' são termos frequentemente associados a esse tipo de comédia. Vou confessar logo: eu adoro comédias românticas. Mesmo sabendo cada etapa que envolve o filme, mesmo sabendo de cor que os personagens que se odeiam no início ficarão juntos no começo e depois irão brigar por conta do Grande Desentendimento - aquele que costuma amarrar as tramas de comédia romântica. Nesse momento entram em cena os melhores amigos de cada parte - feminina e masculina. A amiga louca aconselhando a atriz principal, e o amigo malandro tentando reafirmar para o galã os velhos e bons argumentos para não se entrar na roubada do compromisso.


Mas nada disso adianta, os dois pombinhos casam-se no jardim de uma casa de interior. A noiva costuma usar modelos lindos toamara-que-caia, os dois fazem votos nada muito criativos quase sempre usando frases que disseram logo no começo do filme. E, no final das contas, a amiga da noiva pega o buquê - que, ao que parece, deve possuir um pó mágico que logo a faz olhar com outros olhos para o amigo do noivo, que por sua vez, também parece hipnotizado.


Mas eu me divirto muito assistindo. Fazer o que... quem não gosta de comédia romântica é porque com certeza já viu, e muito! Se não, não suspeitaria da previsibilidade com que esses filmes são feitos - o que, na minha opniao, é o grande trufo do negócio todo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A dúvida

Ambas as figuras um de frente para o outro sentados. Um dos dois alto, o outro pequeno demais - em todos os aspectos.
- E então, como andam as coisas?
- Acho que bem...
O mais alto, possivelmente o mestre, franziu os lábios.
- Sabia que só pessoas medíocres respondem que 'tudo está bem'?
O pequeno encolheu-se, não por medo - talvez por vergonha. Dezesete segundos depois o rapaz se pronuncia.
- Não vai nada bem, acho que... - mordendo os lábios, aflito - não consigo mais.
- Já passaram-se seis meses.
- Mas eu não consigo pensar em algo que dê um impulso na trama e...
- Não me importo - brincava de girar o anel no dedo.
- Mas, senhor... eu não entendo... eu penso em coisas, tenho sonhos reveladores enquanto durmo. Idéias brilhantes me ocorrem em lugares inoportunos abarrotados de gente. Então quando me sento sozinho para recomeçar a escrever, não me vem. Absolutamente nada.
- Você já criou, agora é tarde para ser covarde. Antes deveria ter sido covarde a ponto de não escrever o primeiro parágrafo. Mas agora eles já existem.

O ingênuo pairava com um olhar intrigado. Quem existe?
- Seus personagens, eles estão vivos, uma vez que você os deu personalidade.
- Tudo bem mas eu estive pensando e ainda não sei quem deve morrer... se o senhor pudesse me ajudar e então...
- Não ouço o que está dizendo - o 'olhos azuis' era bom na arte de desprezar.
- Você não sabe o quanto é custoso matar um deles... tenho pesadelos com isso. Nunca sei ao certo se serei justo com um e outro.
Olhos azuis encarando olhos castanhos. Olhos azuis se compadece dos olhos castanhos.
- Vou lhe dizer algo, e depois disso espero nunca mais ver você aqui, a não ser que esteja com a obra em mãos e finalizada.
- Certo.
- Pois bem, você precisa de calma. E barulho, muito barulho. Não pense em terminar o livro como um fardo, apenas imagine que essas pessoas são amigos seus, vizinhos quem sabe. Saia de vez em quando, vá passear, veja cores e pessoas. Você verá pedaços de seus personagens repicados nelas... e eles mesmos lhe dirão quem precisa morrer. Eles lhe dirão o que fará a história ser inesquecível. Você só precisa escutá-los.
Olhos azuis nem sabia se era um conselho útil, mas falou com tanta firmeza que olhos castanhos pôs-se em coluna ereta e fez que sim com a cabeça.


Depois só o escuro na sala.