O Kibe loco tem razão quando diz que esse pessoal de lanchonete tem um linguajar todo próprio e interno deles. Fui agora na padaria e pedi "um pão na chapa com polenguinho pra viagem, por favor", no que o balconeiro vira e pede:
"Polenguinho chapado viajando!"
Segurei o riso, melhor, tentei.
Todas as vezes que eu precisar de um lugar imaginário pra eu me contradizer: esta será a minha casa.
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
O faminto
Hoje enquanto estava no ônibus, me peguei pensando em como a gente acaba agindo no automático, fazendo as coisas sem pensar sobre elas, repetir os trajetos rotineiros sem se dar conta, realizar as tarefas do dia a dia sem prestar atenção. Somos capazes de deixar o dia passar e, ao final dele, não conseguirmos nos lembrar das milhares de riquezas de detalhes que passaram na frente dos nossos olhos. Sim, eu juro que esses devaneios ainda tomavam conta da minha mente quando eu desci do ônibus e vi a cena que vi.
Eu estava mesmo refletindo sobre isso enquanto caminhava rápido em direção à São Francisco Xavier para não chegar atrasada à UERJ. Minha visão periférica capturou um desses moradores de ruas bem magros, preto, sentado em cima de um papelão, sujo, gritando: "Eu to com fome, gente! Por favor, me dá comida!". Essa cena fez parte do meu cenário somente alguns poucos segundos, porque eu caminhava bem rápido. Eu não costumo dar dinheiro para ninguém na rua... geralmente as pessoas pedem dinheiro para comprar comida e a gente sempre presume que eles gastarão o dinheiro para usar drogas. Por isso e pela pressa do cotidiano e pelo medo da violência eu sempre acabo passando direto por essas pessoas. Mas aquele homem não estava pedindo dinheiro, (eu já estava a uns 20 passos dele, com minha cabeça martelando nessa ideia) ele pedia comida. Ele estava com fome e tinha algo no seu timbre de voz que soava desesperado, quase agonizante, o que provavelmente me fará ficar inquieta na minha cama confortável essa noite. Eu não costumo nunca ter dinheiro na carteira, nem reparar nessas pessoas ou ter predisposição a falar com elas, estar perto delas. Mas voltei os 15 metros que já tinha andado decidida que daria alguma coisa de comer àquele homem e quando eu cheguei lá vi o exato momento que uma mulher lhe entregava uma quentinha em suas mãos. "Poxa, ela chegou primeiro", pensei.
Depois descobri: nem é isso que importa. Cheguei à conclusão de que eu me sentiria muito hipócrita de pensar coisas profundas acerca de como as pessoas levam a vida de um "modo automático" se não tivesse tido a coragem de voltar 15 metros para ajudar alguém.
Eu, de fato, não ajudei àquele homem, mas acredito que ninguém "chega atrasado" para fazer a coisa certa. Se outra pessoa chegou antes de mim naquele mendigo, eu, pelo menos, cheguei a tempo à minha própria consciência. No fim das contas, ajudei a mim mesma a ser um pouco menos mesquinha.
– Priscilla Acioly, 11/11/2013
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