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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Carteira




Quer algo mais simbólico das épocas de escola, principalmente Ensino Fundamental e Médio do que a carteira? Tudo bem que existem os lápis, caneta, quadros-negros (agora brancos), borracha, mochila, apontador, caderno, estojo, lapiseira, régua, etc, etc, etc que também poderiam simbolizar o maior acontecimento na vida da criança e do adolescente chamado escola. Mas estes podem ser encontrados facilmente nas universidades, cursos superiores e tudo mais. Aí você me pergunta: Ué, Priscilla, do que você tá falando? Também têm carteiras nas faculdades! E eu concordo. Mas meu objetivo aqui é chamar atenção para as peculiaridades de uma Carteira de Ensino Médio.

As carteiras do Ensino Médio vivem rabiscadas. A começar com as bordas sempre com o nome de algum engraçadinho em liquid paper. E na parte plana sempre rola aqueles rabiscos avulsos, desenhos boladões com umas típicas pichações que os garotos gostam de fazer e as meninas nunca entendem o sentido daquilo. Mas, se os garotos insistem nessas pichações bizonhas as meninas persistem em letras de música ou poemas mela-cuecas, isso quando não escrevem seu nome e um coraçãozinho com o nome do cara que gosta, tsc tsc eu nunca fiz isso, cof cof. Lembremos também das preciosas equações e fórmulas desenhadas embaixo do estojo minutos antes da prova (aquela colinha básica, né). Sim, as carteiras vivem rabiscadas na escola. Afinal quem nunca se pegou numa aula entediante desenhando aspirais, triângulos ou sombreados quase que de forma transcedente, viajando na aula enquanto destrói por osmose o patrimônio tão útil do seu colégio? Aqui vai meu aviso: quem nunca estudou num colégio com tais hábitos culturais, não foi feliz.

Acontece que a gente cresce, faz vestibular, daí passa e entra numa universidade só de gente fera, inteligente, que não rabisca na me... Opa, peraí. Acho que minha mesa tá suja, será que...? Sim. As carteiras, coitadas, ainda sofrem. E foi com tristeza que descobri que na faculdade as pessoas continuam rabiscando nas carteiras, em escalas muito menores, garanto, mas continuam. Mas, ainda assim, tem uma diferença dos rabiscos do Ensino Médio para os rabiscos de uma carteira de faculdade. Fiquei impressionada ao constatar o que se escreve nas carteiras da UERJ. Existe todo um significado, requinte cult com senso político. Quando não é um fazendo apologia ao socialismo, é alguém citando Nietzsche (juro)! Sem contar que eu, como estudante de letras, canso de acrescentar cultura útil lendo poeminhas de Mário de Andrade, Carlos Drummond... ou então pego umas frases de música em inglês e começo a traduzir. Sensacional esses estudantes, não?

Pois é... parece que as pobres carteiras não deixaram de ser subjugadas. E como prova disso vou relatar aqui um dos mais divertidos flagras lá da facul nesse lance de rabiscar carteiras. Era, de início, um protesto de um aluno. Mas depois outro aluno veio e sabiamente acrescentou seu parecer logo abaixo. Vejam:

Fora Obama!
Fora Dilma!
Fora Cabral!
Fora Paes!


E fica quem?
- Ninguém.

A foto ficou fraca , mas mato a cobra e mostro o pau:


[Foto tirada por mim durante aula de Linguística II]

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ônibus



Estava eu no ônibus ontem, voltando da faculdade. Saí num horário ruim mas, por sorte, encontrei lugar pra sentar. Pena não ser na janela, porque na janela é melhor pra dormir - pensei. Tentei me distrair vendo as pessoas, joguei um joguinho bobo no meu celular e depois fiquei olhando em direção à rua, li duas páginas de um livro e fechei. Não deu certo. Eu tava cansada demais.

Daí chegou a serra, e ela tem o chamado feitiço do sono... mesmo quando não estou com sono de verdade, quando o ônibus pega a Grajaú-Jacarepaguá eu meio que apago... não sei se por conta das curvas, ou se todo aquele verde da floresta funciona como canção de ninar. O fato é que eu acabei dormindo. Dormir no ônibus já é desconfortável, quando você está na cadeira do corredor é pior ainda. A cabeça fica balançando e você não tem apoio.

Mais ou menos ali pela Freguesia - eu já devia estar naquele estágio que você não está num sono profundo porque consegue enxergar algumas coisas, mas está tão ferrado de sono que a sua cabeça vez ou outra cai e você pisca forte e ela levanta de novo - a moça que estava do meu lado cutucou levemente o meu ombro e fez algo inusitado.
- Pode encostar a cabeça no meu ombro, se quiser. Você tá mesmo cansada - Ela sorriu.
Eu fiz algo mais inusitado ainda.
- Ah, desculpe, mas eu vou aceitar.

Ela tinha falado de um jeito tão simpático e tão maternal que eu encostei a cabeça no ombro dela e apaguei de novo. Não me importava que nunca a tivesse visto na vida e que poderia ser qualquer pessoa, inclusive com más intenções. O fato é que ela tinha sido fofa e eu estava morrendo de sono pro meu bom senso funcionar [tá, também não sou tão idiota, se fosse um homem mesmo que eu estivesse com sono eu jamais aceitaria - tirando você, Brad Pitt].

Cosegui tirar um bom cochilo e até fiquei pensando, quizá sonhando, com as palavras do Profeta Gentileza. Em dado momento eu senti que meu ponto estava chegando, e então acordei. Me levantei, e olhei pra ela.
- Brigada, mesmo.
- Que isso, de nada.
A gente sorriu uma pra outra e eu desci do ônibus, sabendo que possivelmente nunca mais a veria na vida, mas sentindo uma imensa vontade de abraçar o mundo.