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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Estrangeiros e vocações profissionais



Eu estava em mais um dia entediante do trabalho quando ele apareceu. Era estrangeiro, claro... eu sabia que era - nenhum brasileiro seria estupidamente idiota para enrolar um cachecol daquela maneira sem querer parecer gay. E ele não era gay, era apenas estrangeiro porque se fosse gay eu também saberia - e viria me perturbar, certamente.
- Hi, could you help me, please?
Eu também o perturbaria, não estava com paciência para bocós.
- Olá, gostaria de ver alguma coisa, senhor?
O bocó me olhava com cara de bocó. Eu retribuía com um sorriso cínico de vendedora.
- Well, i don't understand what you say, lady... but, uhh... I really liked that coat and I wonder how much is it.
Eu o olhava com cara de paisagem. Estrangeiros abusados.
- Hmm, so does anybody here speak english? Because of course you aren't understanding me...
Ele deu uma risada tosca e arrogante. Era hora de eu intervir.
- I don't think anyone here speaks english... like you must have realised, we are all brazilians.
Ele ficou me encarando por uns segundos, talvez não tivesse entendido o sarcasmo. Ou talvez só estava surpreso porque eu tinha conseguido estabeler contato. Prossegui.
- It was a joke... so, what do you want?
- Do you speak english?
- Yes, unfortunaly... But... you were saying about a coat, right? Is that one that you want?
Eu apontei para o suéter azul.
- Yes, it is! Thanks... and what do you mean when you say "unfortunaly"?
Oh, não... ele ia me fazer ter uma longa conversa sobre questões culturais? Não, por favor.
- Well, i mean that people like you come to other countries and think they are right not trying to speak the local idiom. You are the tourists so you are suposed to speak my languague.
Ele me encarou por mais uns cinco segundos, pagou o suéter e foi embora.
Eu fiquei rindo comigo mesma no meu balcão... eu era tão inteligente.
Resolvi pedir demissão daquele emprego estúpido naquele exato minuto.


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