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terça-feira, 20 de agosto de 2013

O cara que dormia no ônibus


Eu tenho dezenas de crônicas de ônibus inimagináveis para contar. Mas hoje (aliás, acaba de acontecer) ocorreu, de fato, algo surreal. 

Ônibus: 353. 
Por volta das 21:30 o ônibus está passando por Quintino quando o motorista dá uma parada brusca. Fico até preocupada, mas então vejo que o motorista está esperando acontecer alguma coisa até que, quando se dá conta de que a tal coisa não acontece, levanta e dá a ordem: senhora, chama o cara aí do meio. 
Eu e mais todo o ônibus viramos a cabeça pra olhar o cidadão que estava dormindo nos bancos. A moça o chama, ele não acorda. O motorista chama ele quase aos berros "Anda, cidadão! Levanta!" e ele nada, apenas solta uns resmungos. Eu não estava entendendo direito o que estava acontecendo. Até cheguei a pensar que o homem estava chapado.
O motorista irritado pula a roleta (essa parte foi sensacional, ele realmente pulou a roleta com fúria), vai até o homem e o cutuca "você tem que descer, já estamos na FAETEC" ao que o sujeito responde ainda dormindo "não é esse ponto, não". O motorista se indigna, faz ele acordar na marra. Este se levanta ainda um pouco desnorteado mas, enfim, reconhece seu bairro e desce do ônibus com duas enormes sacolas de não-sei-o-quê (seu aparato de trabalhador e, se não for, eu, como escritora, digo que é). No que ele descia, o motorista praguejava "Dormindo assim não dá, todo dia a mesma coisa ter que ficar te acordando! Agora se eu te ver no ponto num vô mais pegar".
E eu aqui, no primeiro banco do ônibus, embasbacada com a cena. Um motorista que sabe onde o passageiro tem que descer... parece mentira. Inclusive, isso tinha que ser mentira. Se algum de vocês me contasse essa cena eu não acreditaria. O problema é que não é ficção... Ah, não é...
É o Rio de Janeiro e seus personagens caricatamente reais da Zona Norte.

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