Nasce mais um macho no mundo.
2 anos de idade: o maldito chiqueiro
Diego, aquele projétil de menino, corria pela casa livremente. É incrível o que duas perninhas de bebê podem fazer quando obtêm intimidade com o firmamento. Com Diego não foi diferente. A mãe - coitada - suava que só... o pai já havia desistido, faz tempo, de deter o menino.
- Deixa ele, mulher, não adianta prender.
- Ah, mas não será no seu ouvido que ele vai berrar depois!
- Berrar? E por quê?
Pronto. Catibúm. Diego berrou, e berrou, e berrou. O pai o segurou por uns minutos enquanto a mãe o encarava com ares de superioridade. E foi nesse dia que a mãe teve a grande idéia: o chiqueiro.
Diego teve de se contentar com as novas condições de liberdade. Os bons tempos acabaram. Pobe Diego, agora não era mais amigo do corredor da casa. Mas tinha de encarar aqueles ursos peludos e chatos que a mãe comprara com a absoluta certeza do entretenimento do filho. Que nada, Diego só queria disparar da sala até a cozinha de novo.
Maldito chiqueiro.
4 anos de idade: escola pra quê?
O primeiro dia de aula. Diego olhou para a mãe e depois olhou para aquele grande portão colorido. Alguma coisa o fazia sentir que algo estava mui estranho. Desconfiado, apertou a mão de sua progenitora de maneira firme. Deu uns passos tímidos à frente e fitou os olhos da mãe.
- Aqui é a sua escolhinha, filho. Você gostou dela?
Balançou a cabeça que não.
- Quer que a mamãe vá com você?
Balançou a cabeça que não.
- Mas filho, vai ser divertido... você vai poder brincar com os coleguinhas, sabia?
Balançou a cabeça que não.
Durante a primeira semana era sempre o mesmo ritual: Diego apertava a mão da mãe e empacava no lugar. A mãe batia um lero com ele que levava cerca de uns vinte e sete minutos até ele entender que não tinha autonomia suficiente para decidir que não queria estudar na vida, que a escola não fazia a mínima diferença para ele e que poderia muito bem continuar vivendo com Yakult e Discovery Kids para sempre, obrigado.
Infelizmente não funcionou... Diego teria de frequentar a escola durante os próximos treze anos de sua vida.
7 anos de idade: o objeto cilíndrico que arruinou minha vida
Muitas pessoas consideram a infância como a primeira fase da vida. Na verdade, eu digo que isso é um equívoco. Diego já não tinha mais três, quatro, ou cinco anos... nem mesmo seis. Sete. Ele tinha sete anos de idade. Já sabia o alfabeto inteiro de trás pra frente, cantava o hino nacional de cor, andava de bicicleta (sem rodinha) e, às vezes, sem as duas mãos - mas essa parte sua mãe não precisava saber, e já sabia de onde vinham os bebês. Porém (há sempre um...) assim como todo adolescente, jovem ou idoso que ainda guarda um resquício de sua fase de vida anterior, Diego escondia um segredo.
Era uma noite fresca de setembro. Uma perfeita noite para se trazer seus dois melhores e inseparáveis amigos para dormir em sua casa. Lá estavam, jogando video game, Diego e seus dois melhores e inseparáveis amigos: Marcelinho e Kaká. Os três estavam muito concentrados, cada qual com seu controle em mãos. Gritavam uns com os outros sobre os comandos do controle e a direção que seus respectivos bonecos deveriam tomar. Estavam entretidos, compenetrados, vidrados quando...
- Dieguinho, aqui o seu leite.
Os três garotos viraram o pescoço para trás ao ouvir a sra. Cardoso e ficaram chocados com o que viram. Tinha não mais do que quinze centímetros de comprimento, com mais ou menos seis centímetros de diâmetro, um formato cilíndrico na base e triangular na parte de cima. Muito parecido talvez com... não, não podia ser. Será? Era mesmo uma...
- Mamadeira?!! - exclamaram Marcelinho e Kaká ao mesmo tempo.
- O meu filhote só toma pra dormir. Aqui, amor, pegue logo antes que esfrie... - disse, tentando depositar o objeto nas mãos do menino o qual rapidamente se recusou.
- Não, mãe... que isso?! Eu não tomo mamadeira - Diego estava desesperado, não sabia onde pôr a cara e já desejava tranformar-se num avestruz.
- Como assim não, filho? Claro que você toma. Deixe de bobeira, pegue.
- M-mãe eu não... e-eu não bebo isso, o que é isso? Eu não tomo mamadeira!
- Está com pena dos seus amigos por que eles não trouxeram? Meninos, eu posso pegar para vocês também se quiserem - sugeriu com um bondoso sorriso no rosto.
- Pra nós?
Os dois meninos fecharam a boca de um jeito impulsivo e não queriam soltar o ar, mas as bochechas inflaram demais e não puderam mais prender: caíram numa intensa gargalhada a ponto de rolarem no tapete e darem palmadas no chão com muita intensidade. A sra. Cardoso achou curiosa a reação dos meninos, mas preferiu deixar a mamadeira no canto da sala (caso Diego parasse de agir como louco e quisesse tomar seu leite) e tornou à cozinha. Já Diego ficou absolutamente frustrado consigo mesmo - isso para não mencionar o ódio mortal que sentia pela mãe naquele devido momento. Teve de aguentar risinhos e piadinhas sobre sua mamadeira durante toda aquela noite. Pobre Diego... que culpa tinha o menino de nutrir um hábito de sua fase bebê (e é aí que lhes provo que a infância não é a primeira fase da vida)?
Diego viveria um pesadelo durante os próximos dias no colégio, tinha certeza. Aquele episódio era digno de replay (e com câmera lenta!). O que ele não sabia era que no dia seguinte, quando não estivesse mais na companhia de seus amigos, Marcelinho dormiria abraçado com seu paninho azul. E Kaká, por sua vez, voltaria a usar sua chupeta vermelha. E, ambos, teriam bons sonhos.
9 anos de idade: não são como água e óleo, não percebem!?
Era um dia ruim, na verdade péssimo. Diego se sentia o último dos homens... o mais réles e inútil mortal da classe. Não. O mais réles, inútil e miserável mortal da escola. Ou ainda pior: o mais réles, inútil, miserável e incompetente mortal de todo o universo. E tudo isso por apenas um motivo: Diego gostava do vasco e do flamengo - ao mesmo tempo. Sim, é isso mesmo que você leu... e não ache que estou blasfemando porque quem o fez foi Diego, seu camarada. Diego sempre evitou conversar sobre futebol. Primeiro porque tinha lá suas (imensas) dúvidas de qual seria realmente o seu time - fosse o mengão do pai ou a cruz de malta do tio Zé, que por sinal era o tio mais simpático que alguém poderia ter. Segundo porque não entendia muito bem como um bandeirinha poderia enxergar a 'linha' imaginária do campo até porque se a linha era imaginária - como seu pai lhe explicara em certa ocasião - achava injusto que as pessoas de casa pudessem ver a linha. E terceiro porque - como vocês mesmos já devem ter previsto - ele não era lá isso que se diga 'Oh! Como esse guri entende de futebol!'...
Pois bem, tudo começou quando todos os seus colegas de classe resolveram discutir sobre a performance de seus respectivos times no Campeonato Carioca. Diego permaneceu calado. Alungs minutos transcorreram-se e então a questão veio à tona.
- E você Diego, num tem time não?
- Tenho.
Silêncio absoluto. Cinco rostos voltados para ele.
- Eu sou flamenguista e vascaíno - finalmente disse. A verdade escondida durante anos a fio veio à tona. A verdade que o martirizava e fazia-o se sentir um sujo e imundo moleque que não sabia discernir a mão direita da esquerda. A verdade que, naquele exato momento, se revirara em aspecto de cólera estampada bem no rosto de cada um de seus amigos.
- Você era flamenguista e virou vascaíno?
- Não.
- Você era vasco e agora é flamenguista? Relaxa, comigo também foi assim... eu não sabia o que queria da vida e um belo dia...
- Também não é isso.
- Você é flamengo mas tem de fingir que é vasco para agradar um parente?
- Você é vasco ou flamengo?
- Você é obrigado a torcer pelo vasco? Seu pai é violento?
- Você não pode usar vermelho e preto?
Você, você, você, você... todas aquelas perguntas estavam mexendo com os ânimos de Diego. Ele estava de saco cheio já.
- Eu sou vasco E flamengo, entenderam? Sou OS DOIS times ao mesmo tempo!
- Você tá maluco? Ninguém pode ser vasco e flamengo ao mesmo tempo, ninguém! - um dos meninos mais corpulentos da sala gritou, o que não era lá um bom sinal. Mas Diego não iria recuar, não naquele momento. Precisava manifestar todo um sentimento reprimido de uma opção por um certo estilo de vida... talvez chamado 'alvirrubronegro'?
- Não, eu não sou maluco! - retribuía no mesmo tom de voz - Eu... eu sempre gostei do flamengo. Acho um time bonito, uma torcida... maravilhosa. Mas o vasco tem lá suas qualidades... quando eu era pequeno assistia aos jogos do flamengo e decidia que era flamenguista. Aquele vigor, aquela energia que exala de todo flamenguista, sabe? mas também assistia aos jogos do vasco e, quando eu menos esperava... me pegava vibrando com um gol de Roberto Dinamite! Ele é simplesmente o cara! - uma grande pausa teatral - Foi então que decidi... que seria vasco-flamengo para sempre.
Todos os colegas, muito irritatados, foram virando as costas, um a um, ao ex colega imundo e traidor.
Depois desse dia... Diego odiaria futebol para sempre (se bem que sempre... não é uma palavra que gosto muito de usar).
CONTINUA...
ah, adorei *-*
ResponderExcluirquero ver o primeiro beijo dele, rs.
você escreve tão bem que eu fico boba.
Pri, fantástico seu texto e realmente merece continuação, retrata realmente o que acontece com os meninos, vc escreve muito bem. :D
ResponderExcluirBeijos Isa *
PRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIL, AMEI, AMEI , AMEI *o*.
ResponderExcluirhehehe
ResponderExcluirMe achei muitas vezes no texto...
principalmente no fato de querer ser Vascaíno e Flamenguista ao mesmo tempo...
hehehe
Texto muito bom!
espero que continue a escrevê-lo.
Adorei Márcia, muito criativa sua idéia, bem que você podia entrar pra uma daquelas colunas de jornais HIOSDDHIOSHIOSD
ResponderExcluirFANTÁSTICO, TO PENSANDO ATÉ EM POSTAR ESSA MATÉRIA COM MINHA VERSÃO EM MEU BLOG FEMININO, PARABÉNS... RISOS... BEM HUMORADA A VISÃO DE NÓS OS HOMENS!
ResponderExcluirMuito bom... quero ver uma versão feminina
ResponderExcluiré incrivel como identificamos aracteristicas de nossas próprias vidas :D
Bom texto.
ResponderExcluirMas eu parei de ler depois que vc escreveu: "Acho um time bonito, uma torcida... maravilhosa".
Poisé Janine, rs... muita gente tem pedido a versão feminina. Eu quis fazer sobre o universo masculino justamente porque as questões femininas já são abundantemente abordadas em todos os lugares. Mas... quem sabe, né?
ResponderExcluirPrimeiro tenho que dar um rumo na história de Diego, bjs e brigada :)
Rafael, a culpa não é minha se Diego acha a torcida maravilhosa, ué. rs
NOSSA
ResponderExcluirMUITO BOM MESMO
GOSTEI DISSO
EAHEAHAE
QUANDO CONTINUAR QUERO VER!
2 times com 9 anos de idade e odiando futebol?Suspeito seriamente da sexualidade desse seu personagem.rsrsrs...Brincadeirinha...Tá bom o texto,curti!
ResponderExcluirE ainda fiquei meio bolado pelo personagem aos 7 anos saber o hino nacional inteiro e andar de bicicleta,coisas que eu não sei aos 22.rsrsrs
Calvin Watterson www.finalzindefesta.blogspot.com
Adorei o conto e sua forma de desenvolvê-lo. Muito bem pensado!
ResponderExcluirQuero ver um de meninas hein, rs!